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Conto - Sob Os Olhos

Estavam em casa em um dia comum. A lareira acesa, um vinho e no fogão, uma sopa estava sendo preparada para o jantar que iria comemorar os 5 anos de casamento. O casal conversava na cozinha sobre o que aqueles 5 anos representaram na vida de cada um e o quanto o amor havia se fortalecido naquele tempo. Faziam planos para encomendarem o primeiro filho. E, Sem mais nem menos. Uma explosão.
O botijão que armazenava o gás de cozinha despedaçou-se. A cozinha toda queimou em minutos. Os vizinhos correram para ajudar. Tentaram tirar o casal com vida. Conseguiram. Ela, que estava ao lado do fogão, provavelmente não sobreviveria, ele menos machucado, desmaiou.
Acordaram no hospital. Ela havia ficado totalmente deformada, as queimaduras de terceiro e quarto grau, atingiram todo o corpo e rosto, os médicos deram 5% de chances de sobrevivência. Ele, não havia se queimado, pois foi arremessado para o lado oposto, somente havia ferido os olhos e costelas.
Foram muitos meses angustiantes, ela ficou internada quase 1 ano, ele a visitava todos os dias. Os olhos foram feridos para sempre. Ela, com o corpo e rosto totalmente deformados, lastimava ter sobrevivido pra viver daquela maneira. Ele não se incomodava com a aparência dela, mas, para as outras pessoas, era assustador. Foram se isolando em seus mundos, ele cuidava dela, durante anos, trocava os curativos, dava banho, amava, tiveram assim o primeiro e único filho, após 5 anos do terrível acidente. Nestor , era seu nome. E foi uma Vitória conseguir dar a Luz aquela criança. Nestor era muito amigo dos pais e cuidava dos dois e não se envergonhava da aparência da mãe e nem da cegueira do pai.
Cresceu, tornou-se um rapaz cheio de sonhos. Próximo a completar 23 anos, decidiu casar-se.Bem perto de seu casamento, sua mãe faleceu. Foram dias muito difíceis.
No dia do seu casamento, seu pai chegou pontualmente para abençoar os noivos.
Estranhamente, entrou na igreja sem bengala e sem os óculos que acompanhavam sua cegueira desde o dia do acidente. Caminhou firme até o filho, que não estava entendendo. Desde que nascera, sempre viu o pai lidar com a cegueira de forma natural.
Aproximou -se do filho e disse:
- Ame sua mulher todos os dias de sua vida, cuide dela se precisar e sacrifique-se se assim for necessário.
_ Mas pai, seus olhos- confuso disse o filho- tocando os olhos do pai.
_ Sua mãe, não suportaria viver, se soubesse que eu a via exatamente como tinha ficado. Pra ela era mais suportável acreditar que eu não enxergava e que eu tinha em minha mente a imagem de como era antes,
Mas, se ela soubesse o quanto eu amava a sua alma, jamais se preocuparia com sua aparência física.
Abraçou o filho, saiu da igreja e reaprendeu a ver com os olhos o que sempre enxergou com o coração. O amor!

Copyright © 2019 Izabelle Valadares